Sunday 1 December 2013

Entrevista: lobbies do setor privado poluidor dominaram Conferência do Clima

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Meio Ambiente
27.11.2013
Mundo ]
Entrevista: lobbies do setor privado poluidor dominaram Conferência do Clima

Adital
Foto: Divulgação COPA pesquisadora Camila Moreno esteve presente na 19ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-19), realizada entre os dias 11 e 22 de novembro em Varsóvia, Polônia, com o objetivo de costurar o novo acordo global que obrigará todos os governos a cortarem as emissões de gases-estufa, substituindo o Protocolo de Kyoto e reduzindo, desta forma, os impactos das alterações do clima. Em entrevista concedida ao Instituto Humanistas Unisinos (IHU) a pesquisadora relata os poucos avanços e acordos mínimos do encontro, além da presença de lobbies do setor privado na ocasião.

Questionada acerca da avaliação final da COP-19 como pesquisadora da área ambiental e representante do Grupo Carta de Belém, especializado na luta pela justiça ambiental na Amazônia e nas outras regiões do Brasil, Camila denuncia a presença da captura corporativa no evento. "É flagrante a ocupação do espaço da convenção por lobbies de grandes empresas poluidoras e do chamado ao setor privado (aos mercados, investidores e da oportunidade de negócios com o clima), que é referendada e levada adiante pela própria ONU, como se viu no painel de alto nível (high level pannel) sobre abordagens de mercado para ação fortalecida (market approach for enhanced action), com um discurso do próprio Ban Ki Moon, secretário geral da ONU”.

Na visão da pesquisadora, a COP-19 terminou com poucos avanços, mas que garantem, oficialmente, a continuidade do processo, que deve, até o fim de 2015, definir as regras para um novo acordo global sobre o clima, na COP-21, em Paris. Após várias negociações, foi definido que, até o final do primeiro trimestre de 2015, os países com condições para tanto (in a position to do so) devem definir suas metas voluntárias de redução de emissões para que estas sejam comunicadas à Convenção. As "condições” para que os países submetam essas metas não envolvem apenas a "vontade política”. Há um grande investimento, que também depende de acesso à tecnologia, quantificação dos gases, produção de inventários, colocação em marcha de sistemas nacionais de registro e contabilidade para medir, reportar e verificar as reduções.

"No final de 2015 os países devem acordar um novo regime internacional, que entrará em vigor a partir de 2020. Esse novo acordo deve estabelecer obrigações de redução de emissões válidas para todos os países, sucedendo o Protocolo de Kyoto. De acordo com Kyoto, as obrigações vinculantes se aplicam somente para os países desenvolvidos, ou seja, aqueles que mais teriam contribuído, historicamente, com as emissões de gases que causaram o efeito estufa, principal causa atribuída às mudanças climáticas e ao aumento da temperatura média do planeta”.

Camila acrescenta que as bases desse novo acordo deverão incluir as urgências respaldadas pela ciência, de reduções muito mais significativas nas emissões, incluindo também as potências "emergentes”, como Brasil, Índia e China. Porém, ela também ressalta que, nesse caminho, os países desenvolvidos estão fazendo esforços para abandonar os princípios fundamentais da Convenção e diluir, de todas as formas, o "princípio das responsabilidades comuns”, um dos pilares do debate do tema no plano internacional, desde a sua instauração.

Com o fim da COP-19, o foco agora será a COP-20 em Lima, Peru, em dezembro de 2014, que será importante para mobilizar uma visão regional e Amazônica, que defende mecanismos fora do mercado e da métrica "carbonocêntrica”. ”É uma tarefa urgente construir uma narrativa alternativa, que enfatize a dimensão social e real dos impactos do clima e de um chamado à responsabilidade histórica dos países que causaram o problema”, finaliza Camila.

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