Saturday 5 October 2013

Dez Soluções para a Mudança Climática

scientific american
http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/dez_solucoes_para_a_mudanca_climatica.html


Dez Soluções para a Mudança Climática

Dez possibilidades para impedir uma alteração catastrófica no clima

David Biello
EXPERIÊNCIA PLANETÁRIA: A mudança climática poderá se tornar catastrófica caso não sejam feitos esforços para redução das emissões de gases de efeito estufa.
A enormidade do aquecimento global pode ser intimidante e desanimadora. O que uma pessoa, ou mesmo uma nação, pode fazer por conta própria para retardar ou reverter a mudança climática? Mas assim como as 15 recomendações elaboradas pelo o ecólogo Stephen Pacala e pelo físico Robert Socolow, ambos da Princeton University – cada uma difícil porém viável e, em certas combinações, capaz de reduzir as emissões de gases de efeito estufa a níveis mais seguros –, há mudanças de estilo de vida pessoal que uma pessoa pode promover e que podem ajudar a reduzir o seu impacto de carbono. Nem todas elas valem para todo mundo. É possível que você já esteja colocando algumas em prática, ou que abomine outras. Mas a adoção de algumas delas pode fazer diferença.

Abandonar os combustíveis fósseis – O primeiro desafio é eliminar a queima de carvão, petróleo e, finalmente, de gás natural. Este talvez seja o desafio mais intimidante, já que os cidadãos dos países mais ricos literalmente comem, vestem, trabalham, brincam e até mesmo dormem com produtos dessa fonte fóssil. E cidadãos dos países em desenvolvimento querem e supostamente merecem os mesmos confortos, que se devem em grande parte à energia armazenada nesses combustíveis.

O petróleo é o lubrificante da economia global, escondido dentro de itens comuns como plástico e milho, e é fundamental para o transporte tanto dos consumidores quanto dos produtos. O carvão é o substrato, fornecendo cerca da metade da eletricidade usada nos EUA e quase o mesmo em todo mundo – um percentual que provavelmente crescerá, segundo a Agência Internacional de Energia. Não há soluções perfeitas para a redução da dependência de combustíveis fósseis (por exemplo, biocombustíveis neutros em carbono podem elevar o preço dos alimentos e provocar destruição das florestas, e apesar da energia nuclear não emitir gases do efeito estufa, produz lixo radioativo), mas tudo o que for conseguido conta.

Assim, tente usar alternativas quando possível – plásticos de origem vegetal, biodiesel, energia eólica – e acredite na mudança. Por exemplo, você pode deixar de investir em ações de petróleo e colocar seu capital em empresas que praticam captura e armazenamento de carbono.
Atualizar a infra-estrutura – Os edifícios em todo mundo contribuem com cerca de um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa (43% apenas nos EUA), apesar do investimento em maior isolamento e outras medidas com boa relação custo-benefício para o controle da temperatura resultarem em economia a longo prazo. As redes elétricas estão no limite da capacidade ou sobrecarregadas, mas a demanda continua crescendo. E estradas ruins podem reduzir a economia de combustível mesmo para os veículos mais eficientes. O investimento em uma nova infra-estrutura, ou a atualização radical das estradas e linhas de transmissão existentes, ajudaria a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover o crescimento econômico nos países em desenvolvimento.

É claro que é necessário muito cimento, uma grande fonte de emissão de gases de efeito estufa, para a construção de novos prédios e estradas. Os Estados Unidos contribuíram com 50,7 milhões de toneladas métricas de CO2 para a atmosfera em 2005 com a produção de cimento, que exige o aquecimento de calcário e outros componentes a 1.450ºC. A mineração de cobre e outros elementos necessários para as redes elétricas e de transmissão também causam poluição que provoca o aquecimento global.

Mas prédios eficientes em energia e melhores processos para a produção de cimento (como o uso de combustíveis alternativos para aquecer os fornos) poderiam reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos países desenvolvidos e preveni-las nos países em desenvolvimento.

Morar mais perto do trabalho – O transporte é a segunda principal fonte de emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos (a queima de um único litro de gasolina produz mais de 2 kg de CO2). Mas não precisa ser assim.

Uma forma de reduzir drasticamente as necessidades de combustível para transporte é se mudar para mais perto do trabalho, usar transporte coletivo ou optar por caminhar, andar de bicicleta ou outro meio de transporte que não exija nada além da energia humana. Também há a opção de trabalhar em casa e pelo computador vários dias da semana.

Reduzir viagens de longa distância também ajudaria, principalmente viagens aéreas, que são uma das fontes que mais crescem de emissões de gases de efeito estufa e que, pode-se argumentar, libera essas emissões no pior local possível (na alta atmosfera). Os vôos também são uma das poucas fontes de poluição para as quais ainda não existem alternativas viáveis: os jatos dependem de querosene, que possui mais energia por quilo, permitindo viajar grandes distâncias rapidamente, mas exigindo apenas 10 galões de petróleo para a produção de um galão de combustível Jato A. Restringir os vôos apenas a viagens de longa distância extremamente necessárias – em muitas partes do mundo, os trens podem substituir os aviões em viagens de curta e média distância – ajudaria a reduzir as emissões dos aviões.
Consumir menos – A forma mais fácil de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa é simplesmente comprar menos coisas. Seja abrindo mão de um automóvel ou empregando um sacola de compras reutilizável, a redução do consumo resulta em uma menor queima de combustíveis fósseis para extrair, produzir e transportar produtos ao redor do mundo.

Pense verde quando fizer compras. Por exemplo, se estiver à procura de um carro novo, compre um que dure bastante e tenha o menor impacto sobre o ambiente. Assim, um carro usado com motor híbrido oferece eficiência de combustível superior a longo prazo, ao mesmo tempo em que poupa o impacto ambiental da produção de um carro novo.

Paradoxalmente, ao comprar produtos essenciais, como gêneros alimentícios, a compra em grande quantidade pode reduzir a quantidade de embalagens – sacos plásticos, caixas de papelão e outros materiais desnecessários. Às vezes, comprar mais significa consumir menos.

Ser eficiente – Uma alternativa potencialmente mais simples e de impacto ainda maior pode ser atingida fazendo mais com menos. Cidadãos de muitos países desenvolvidos são desperdiçadores de energia, seja acelerando veículos esportivos beberrões de combustível ou deixando luzes acesas quando não estão em um cômodo.

Uma boa condução do veículo – e uma boa manutenção do carro, como assegurar que os pneus estejam devidamente calibrados – pode limitar as emissões de gases de efeito estufa do veículo e, o que talvez seja mais importante, reduzir a despesa na bomba de gasolina.

De forma semelhante, usar refrigeradores, aparelhos de ar condicionado e outros itens mais eficientes, como os melhores cotados segundo o programa Energy Star da U.S. Environmental Protection Agency (EPA, Agência de Proteção Ambiental americana), pode reduzir a conta de eletricidade, assim como medidas simples como o isolamento térmico das janelas de uma casa podem reduzir as contas de aquecimento e refrigeração. Esses esforços também valem para o trabalho, seja por meio da instalação de turbinas mais eficientes em uma usina elétrica ou apagando as luzes quando deixar o escritório.
Comer de maneira inteligente – virar vegetariano? – O cultivo de milho nos Estados Unidos exige barris de petróleo para o fertilizante necessário e diesel para sua colheita e transporte. Alguns mercados vendem hortifrutis orgânicos que não exigem esses fertilizantes, mas que muitas vezes vêm de meio mundo de distância. E a carne, seja bovina, frango ou de porco, exige quilos de ração para produção de meio quilo de proteína.

Escolher alimentos que equilibrem nutrição, sabor e impacto ecológico não é fácil. Muitas vezes, os alimentos exibem alguma informação nutricional, mas é difícil saber a distância que um pé de alface percorreu para chegar à mesa.

Pesquisadores da University of Chicago estimam que cada americano que come carne produz 1,5 tonelada a mais de gases de efeito estufa que os vegetarianos, exatamente por causa de sua opção alimentar. Também seria necessária uma menor quantidade de terras para o cultivo das plantações para alimentar os seres humanos que os rebanhos, permitindo um maior espaço para o plantio de árvores.

Parar de derrubar árvores – Todo ano, 13 milhões de hectares de florestas são derrubados. Só a madeira extraída dos trópicos contribui com 1,5 bilhão de toneladas métricas de carbono na atmosfera. Isto representa 20% das emissões de gases de efeito estufa de origem humana, e uma fonte que poderia ser evitada de forma relativamente fácil.

Melhores práticas agrícolas, juntamente com a reciclagem de papel e a gestão de florestas – equilibrando a quantidade de madeira extraída com a quantidade de novas árvores plantadas – poderiam eliminar rapidamente essa porção significativa das emissões.

E ao comprar produtos de madeira, como móveis ou piso, compre bens usados ou com madeira certificada de origem sustentável. A Amazônia e outras florestas não são apenas os pulmões da Terra, mas também podem ser a melhor esperança da humanidade a curto prazo para frear a mudança climática.
Tirar os aparelhos da tomada – Acredite se quiser, os cidadãos americanos gastam mais dinheiro em eletricidade para alimentar aparelhos desligados do que ligados. Televisores, equipamento de som, computadores, carregadores de bateria e uma série de outros aparelhos consomem mais energia quando estão aparentemente desligados. Assim, é melhor tirá-los da tomada.

A compra de aparelhos eficientes em energia também pode economizar tanto dinheiro quanto energia – e assim prevenir mais emissões de gases de efeito estufa. Como um exemplo, carregadores de bateria eficientes poderiam economizar mais de um bilhão de quilowatts/hora de eletricidade –US$ 100 milhões, ao preço atual da energia elétrica – e conseqüentemente impedir a emissão de mais de um milhão de toneladas métricas de gases de efeito estufa.

Trocar as velhas lâmpadas incandescentes por substitutas mais eficientes, como as fluorescentes compactas (alerta: estas lâmpadas contêm mercúrio e devem ser descartadas de forma apropriada ao final de sua vida útil mais longa), economizaria bilhões de quilowatts/hora. Na verdade, segundo a EPA, a substituição de apenas uma lâmpada incandescente em cada lar americano economizaria energia suficiente para fornecer eletricidade para três milhões de lares americanos.

Ter um filho só – Há pelo menos 6,6 bilhões de pessoas vivendo atualmente, um número que a ONU prevê que crescerá para pelo menos 9 bilhões até a metade do século. O Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP) estima que atualmente são necessários em média 22 hectares para sustentar um ser humano – para alimentos, vestuário e outros recursos extraídos do planeta. A continuidade desse crescimento populacional parece insustentável.

A queda do índice de natalidade em alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento (uma percentual significativo, devido a limites impostos pelo governo ao número de filhos que um casal pode ter) começou a reduzir ou reverter a explosão populacional. Ainda não se sabe ao certo quantas pessoas o planeta pode sustentar de forma confortável, mas está claro que o consumo de energia per capita deve diminuir caso se queira controlar a mudança climática.

É claro que a regra de apenas um filho por casal também não é sustentável e não há um número perfeito para a população humana. Mas está claro que mais gente significa mais emissões de gases de efeito estufa.
Usar combustíveis modernos – A substituição de combustíveis fósseis poderá ser o maior desafio do século XXI. Existem muitos candidatos, que variam do etanol feito a partir de produtos agrícolas ao hidrogênio obtido por eletrólise da água, mas todos apresentam alguns reveses e nenhum está imediatamente disponível na escala necessária.

Os biocombustíveis podem apresentar uma série de impactos negativos, da elevação dos preços dos alimentos ao uso de mais energia do que produzem. O hidrogênio deve ser criado, exigindo gás natural ou eletricidade para quebrar as moléculas de água. Veículos híbridos elétricos com biodiesel (que podem ser plugados na rede da noite para o dia) podem oferecer a melhor solução de transporte a curto prazo, dada a densidade de energia do diesel e as ramificações neutras em carbono dos combustíveis de origem vegetal, somadas às emissões dos motores elétricos. Um estudo recente apontou que a quantidade atual de geração de eletricidade nos EUA poderia fornecer energia suficiente para toda a frota de automóveis do país se trocada por híbridos elétricos, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa no processo.

Mas os híbridos elétricos dependeriam também de eletricidade, atualmente ainda gerada predominantemente com a queima de carvão. Um enorme investimento em geração de energia de baixa emissão, seja energia térmica solar ou fissão nuclear, seria necessário para reduzir radicalmente as emissões de gases de efeito estufa. E fontes de energia ainda mais especulativas – células fotovoltaicas hipereficientes, estações de energia solar em órbita ou mesmo fusão – poderiam ser necessárias.

As soluções acima oferecem um esboço de um plano para evitar e contribuir pessoalmente para o aquecimento global. Mas caso esses esforços individuais ou nacionais falhem, ainda há outra solução desesperada:

Realizar experimentos com a Terra – A mudança climática representa a primeira experiência planetária da humanidade. Mas, se tudo mais falhar, poderá não ser a última. A chamada geoengenharia, intervenções radicais para bloquear a luz solar ou reduzir os gases de efeito estufa, é o último recurso potencial para lidar com o desafio da mudança climática.

Entre as idéias estão a liberação de partículas de sulfato no ar para imitar os efeitos resfriadores de uma imensa erupção vulcânica; a colocação de milhões de pequenos espelhos ou lentes no espaço para desviar a luz solar; cobrir partes do planeta com películas reflexivas para refletir a luz solar de volta ao espaço; fertilizar os oceanos com ferro ou outros nutrientes para permitir que o plâncton absorva mais carbono; e aumentar a cobertura de nuvens ou a refletividade das nuvens que já se formam.

Tudo isso pode produzir conseqüências indesejadas, tornando a solução pior que o problema original. Mas está claro que pelo menos uma forma de geoengenharia provavelmente será necessária: a captura do dióxido de carbono antes de sua emissão e seu armazenamento de alguma forma, seja nas profundezas da Terra, no fundo do oceano ou em minerais carbonatos. Essa captura e armazenamento de carbono é crucial para qualquer esforço sério no combate à mudança climática.

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