Sunday 22 September 2013

Sobre Duas Rodas

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Sobre Duas Rodas

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No Dia Mundial sem Carros, nosso ensaio sugere: é hora de pensar no transporte coletivo, mas também nas bicicletas…
Experimentar uma grande cidade enquanto ciclista foi uma das experiências mais marcantes de quando fiz intercâmbio, principalmente porque subverteu a noção padrão que eu carregava sobre mobilidade urbana, aquele senso comum de que transporte público é ônibus, metrô, trem e etc; e que andamos de bicicleta apenas por diletantismo. E quando esse transporte público é precário (como em Salvador e tantas outras cidades do Brasil), apelamos para o carro particular, que polui mais, ocupa mais espaço na rua e transporta menos gente.
Várias circunstâncias colaboram para que o uso da bicicleta não seja estimulado como alternativa para a mobilidade nas cidades brasileiras. Uma das mais fortes é o favorecimento histórico à indústria automobilística. Ele leva o motorista a acreditar piamente que a rua é dele – e a calçada, também. O brasileiro, desde criança, é “criado” para comprar um carro na primeira oportunidade. O sonho do carro particular é equivalente ao da casa própria e a desculpa para cada cidadão ter o seu é o transporte público que não funciona.
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Preferimos sofrer sozinhos, cada um em seu carro, presos no engarrafamento, ao padecer dentro de um coletivo lotado e sucateado. Com essa lógica entupimos as ruas com automóveis particulares e garantimos o faturamento bilionário de empreiteiras, fábricas de carros, indústria petroquímica e todas as outras iniciativas comerciais decorrentes da comercialização de carros.
O uso de bicicletas, apesar de preterido pelo poder publico, sempre foi a solução para pessoas que precisam se movimentar pela cidade para trabalhar, estudar, ter acesso a serviços públicos ou atividades de lazer, e não podem, ou não querem, pagar caro pelo transporte publico oferecido. Essas pessoas não têm outra alternativa de mobilidade e se arriscam nas ruas, disputando espaço com os carros, ônibus e motos, correndo sérios riscos, por causa de um mal que não provocam: o transito que é violento, estressante, barulhento e poluente.
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O cidadão que pedala no cotidiano, oriundo de qualquer camada social, merece, antes de qualquer coisa, um busto. Um monumento em sua homenagem, que louve e reverencie suas pedaladas, em agradecimento por deixar o ônibus mais vazio, o trânsito menos caótico e as cidades menos poluídas. Depois de eregido esse monumento, são necessárias medidas que viabilizem, estimulem e garantam a segurança do uso de bicicletas, para que os ciclistas-guerreiros que existem não sejam atropelados e para que haja novas pessoas aderindo a essa prática.
O poder publico precisa intervir para que o lado mais frágil na selva do transito seja protegido e essa intervenção está para além das leis que já existem e não são respeitadas. É preciso agir em duas frentes: primeiro, incentivar e priorizar o cidadão que optar pela bicicleta por meio de ciclovias, ciclofaixas, bicicletários, sinalização específica e integração aos outros tipos de transporte público. Por outro lado é necessário conscientizar e desestimular aqueles que escolheram sair de carro – lançando campanhas educacionais, fiscalização, cobrança de estacionamento, impostos sobre a aquisição de novos veículos particulares e combustível para esses veículos.
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Isso só será alcançado quando entendermos, enquanto sociedade, que não há cidade no mundo que se sustente sempre construindo viadutos e buscando soluções mirabolantes para enfrentar os problemas de mobilidade urbana. Grandes cidades, como Paris, Londres e Barcelona, já perceberam isso e estão tentando mudar a lógica dominante do automóvel, privilegiando o ciclista e o pedestre, para todos desfrutarem de um trânsito mais humano e uma população mais saudável. Na cidade catalã, por exemplo, é possível passar semanas sem usar o excelente transporte público da cidade, apenas pedalando. No entanto eles querem mais. O Massa Crítica é um evento mundial e lá ocorre mensalmente reunindo inúmeros ciclistas, que pedalam pelas ruas da cidade para tomar o espaço historicamente destinado aos carros!
Amsterdam é considerada a capital mundial do ciclismo e serviu de exemplo para a maioria das cidades que hoje querem mudar essa lógica. Talvez seja uma das pouquíssimas cidades onde o ciclista prevalece diante dos motoristas. Hoje a discussão lá é enfrentar os problemas decorrentes do grande número de ciclistas. Vejam só: faltam estacionamentos para as bicicletas, por exemplo. Percebam que qualquer medida para atenuar as consequências do excesso de ciclistas é mais barata, saudável, eficiente e viável do que direcionar a máquina pública para resolver os problemas que surgem por causa do uso automóveis.
Esse texto é um chamamento para que tenhamos um trânsito menos motorizado e mais humano; e o ensaio fotográfico é dedicado a essa cidade que vive, literalmente, sobre duas rodas.
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