Tuesday 24 February 2015

A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA ENTREVISTA COM ANTONIO DONATO NOBRE

ecodebate
enviado pelo fórum de justiça climática


A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA
 
ENTREVISTA COM ANTONIO DONATO NOBRE

Há uma ficção que traduz com semelhança a situação que ora vivemos. Um cientista anteviu uma catástrofe climática inevitável no filme O dia depois de amanhã. Os políticos o ignoraram, até que o pior previsto aconteceu.
A entrevista é de Marcelo Csettkey, publicada por EcoDebate, 18-02-2015.
A diferença entre a realidade e a ficção se dá por dois detalhes importantes: no filme, o cientista elabora uma teoria no calor do momento, na iminência do fato ocorrer. Na vida real, nossa crise hídrica foi antevista e anunciada pelo cientista Antonio Donato Nobre (PhD, pesquisador do MCTi/CCST-Inpe e MCTi/Inpa) com bastante antecedência. Sua previsão, feita há dez anos, está registrada em uma reportagem da revista Veja intitulada “O ano em que a Amazôniacomeçou a morrer”, publicada no dia 28 de dezembro de 2005. Ali, Nobre afirmava:
“Teríamos uma grande queda de pluviosidade na Região Sudeste, comprometendo a Bacia do Prata e consequentemente, grande parte da geração de energia do país.”
Exatamente o que está acontecendo, basta acompanhar as notícias. Então, o que será da Região Sudeste se os “volumes mortos” morrerem? Os políticos até agora não quiseram ouvir o alerta e a mídia não lhe deu a importância merecida. Políticos e mídia, ao que parece, preferem assumir o risco da ocorrência, omitindo-se ou tergiversando. No filme, houve, por parte do cientista, a constatação da inevitabilidade da catástrofe! Na realidade, ainda há esperança de gerar-se uma inflexão no curso dessa inevitabilidade. É por esta esperança que entrevisto o cientista real.
Partilho a preocupação de todos com a seca que atinge o Sudeste do Brasil, pondo em risco nossas bacias hidrográficas, nossa energia elétrica, nossa água e comida. Tudo o que está acontecendo pode não ser aleatório, mas sim resultado também do desmatamento irresponsável que ocorre diuturnamente na Amazônia e sua relação causal, e não casual, com a diminuição da umidade vinda da floresta para o Sudeste do país nos “rios aéreos” – por uma singularidade que envolve a Cordilheira dos Andes.
O relatório de avaliação científica feito por Nobre, “O Futuro Climático da Amazônia“, é contundente; porém, como diziaShakespeare, “para males desesperados só remédios enérgicos ou remédio nenhum”. Nobre exorta a população, pois só combatendo a ignorância por meio da mobilização popular poderá ser estancada a grande perda anunciada.
Eis a entrevista.
O que de fato acontece que põe em risco o abastecimento de água e energia elétrica nas cidades e capitais do Sudeste? Que singularidade está sendo ameaçada – que difere o Sudeste do país dos desertos na mesma linha entre os trópicos de Câncer ou Capricórnio – e por que motivo os “volumes mortos” tendem a morrer definitivamente?
Os sintomas do desarranjo climático estão aí. Como na crônica da morte anunciada, experimentamos já agora muito do que fora previsto desde mais de 20 anos por vários estudos feitos na Amazônia. E da observação desta nova realidade chegamos à conclusão cientifica: remover árvores leva a um clima inóspito. Com a destruição continuada das florestas é garantido o destino de clima não amigável, especialmente sob o estresse aumentado das mudanças climáticas globais. Éramos felizes e não sabíamos, pois a Amazônia foi e, apesar do desmatamento, ainda é, grande provedora de serviços ao clima. Sabemos agora que a região centro sul da América do Sul recebe a maior parte de suas chuvas a partir de vapor bombeado pela grande floresta. Tal explicação permite compreender por que essa rica região produtiva não é deserto, como são outras regiões na mesma latitude. O clima é variável, assim é provável que, apesar destes anos alarmantemente secos, ainda voltem as chuvas. Não sabemos exatamente como essa transição para uma aridez possa se dar. Mas sabemos que, quando vier, toda a região se verá permanentemente privada do elo mais importante do ciclo de água doce em terra: o suprimento pelas chuvas. 2014 já é um exemplo do que poderemos esperar.
O que provoca o surgimento de uma enorme massa de ar seco, um “paquiderme atmosférico”, uma espécie de Jabba the Hutt“sentado” em cima da Região Sudeste? O que poderia ser feito para diluir essa massa de ar seco que insiste em impedir que as nuvens carregadas de água, vindas da Amazônia se espraiem pela Região Sudeste?
O grupo no qual atuo, liderado pelos físicos russos Victor Gorshkov e Anastassia Makarieva, explica o fenômeno como decorrência direta da remoção de florestas (também na própria região Sudeste), o que impede a convergência de umidade do oceano para o interior do continente, permitindo a estacionamento dessa massa de ar quente e seco, típica de deserto. Tem também a alça de ar da circulação de Hadley, aquela do ar ascendendo úmido no entorno do equador e baixando seco nas latitudes médias – a explicação clássica para o cinturão de desertos nestas latitudes – que poderia estar recebendo vitamina energética do próprio aquecimento global. Liguemos as pontas: tire as florestas e os efeitos da circulação alterada pelo aquecimento global têm campo livre para atuar e eventualmente ali se fixar. Se essa nova circulação e seu clima associado vieram para ficar, se já não for tarde demais, a única possibilidade é recolocar na paisagem o elemento-chave para um clima amigo: restaurar as florestas.
Quais as medidas mais eficientes para se impedir a catástrofe climática anunciada?
Nesta altura e a curto prazo não parece provável ou mesmo possível impedirmos a calamidade climática que nos bate a porta. Mas creio que podemos, se fizermos um genuíno esforço de guerra na restauração extensiva das florestas, atenuar muito os efeitos e quiçá logremos recuperar o espetacular sistema de condicionamento climático que operava no “berço esplêndido”.
No filme supracitado, os políticos são os últimos a reconhecer a situação emergencial. Na realidade, ao que tudo indica, o governo Dilma está na contramão da História, pois negou a assinatura da carta de intenções pelo desmatamento zero até 2030, e replantio de árvores, na Declaração de Nova York sobre Florestas, em setembro de 2014, na reunião do Clima em Nova York – documento assinado por 29 países, incluindo Estados Unidos, Canadá e vários países da União Europeia. Que interesse segundo sua opinião, motivou a negativa?
Não me parece útil presumir os interesses que governam o Brasil. Entretanto, o que parece evidente é que tais ações (ou falta delas) são instruídas pelo desconhecimento da ciência. Tenho a esperança de que governantes responsáveis e compromissados com a sorte da sociedade se apropriarão dos fatos científicos e reformarão as posturas oficiais. Em vista também dos graves fatos climáticos, o Brasil deveria ocupar a liderança mundial em uma luta que resultasse em curtíssimo prazo no estancamento do desmatamento, na abolição do fogo, fumaça e fuligem e no início de um amplo esforço de restauração florestal.
Como a destruição da Floresta Amazônica pode interferir no clima mundial? O que irá acontecer se a grande floresta se transformar em uma savana, ou algo pior, em um deserto?
Simulando a morte e desaparecimento da floresta, alguns estudos estimaram o efeito da liberação massiva do carbono estocado na Amazônia sobre o clima e os prognósticos que geraram indicam sério agravamento do aquecimento global. Outros estudos avaliaram o efeito do desaparecimento da floresta sobre a circulação atmosférica, transporte de vapor e mesmo no balanço de energia, e indicaram que o clima próximo e distante pode ser impactado via perturbação no funcionamento dos oceanos. A grande floresta amazônica, descobriu-se ter papel importantíssimo na regulação climática local, regional e mesmo global. Eliminá-la será uma catástrofe impensável para a humanidade.
De que forma pode haver cooperação internacional para frear o desmatamento da Amazônia? Que atitude mundial fará com que haja uma interrupção dessa catástrofe climática já anunciada? O senhor acredita que este tema possa estar inserido na pauta da Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 21), em Paris, em dezembro de 2015? O que fazer para que o mundo tome ciência da gravidade de destruir-se a maior floresta tropical contínua do planeta?
O desmatamento na Amazônia precisa ser zerado a qualquer custo. E a tarefa compete primeiramente aos países amazônicos porque a eles foi dado o privilégio de possuir tal riqueza. Os outros países podem colaborar neste esforço através de ações ao seu alcance, especialmente deixar de consumir produtos oriundos da destruição da floresta, como toras e madeira serrada, grãos e carnes produzidos em áreas de onde se removeram florestas, entre outros. Podem também apoiar a adoção de soluções alternativas à construção de hidrelétricas nos rios amazônicos, como facilitar o acesso a tecnologias de energia solar. Mas o essencial é que os países amazônicos assumam a liderança neste grande esforço, que precisa se estender a todos os países detentores de florestas e também aos que precisam reconstruir suas florestas originais. Essa grande ação na proteção e restauração de florestas tem ótima oportunidade de ser encampada pelas Nações Unidas, mas é preciso fazer um grande trabalho de conscientização da humanidade, que então demandará dos governos o fim da procrastinação.
Seria a demanda crescente por carne bovina, no mercado nacional e internacional, elemento catalisador do desmatamento da Floresta Amazônica, transformando grandes áreas do riquíssimo bioma em pastagens? O consumo de carne bovina oriunda da Amazônia poderia ser associado à crise hídrica no Sudeste? É plausível este pensamento?
Se uma maior parcela do desmatamento bruto é atribuível diretamente à pecuária bovina e a ampliação desta atividade somente existe devido ao consumo crescente de carne no mundo, decorre que os efeitos no clima do desmatamento estão intimamente associados ao hábito de consumir carne.
Em cinco séculos foram destruídos biomas exuberantes que garantiam o clima paradisíaco que encantou Pero Vaz de Caminha. A devastação sistemática de fauna e flora, apesar de enorme, alterou pouco o clima do país. Que singularidade beneficiou o Brasil até 40 anos atrás? E o que provocou a mudança drástica?
A grande floresta amazônica, como sabemos hoje, exporta serviços ao clima para uma maior parte da América do Sul. A destruição da Mata Atlântica certamente teve efeito ruim sobre o clima local, especialmente na perda da regulação hidrológica fina e da capacidade de atenuação de extremos climáticos. Mas nos séculos passados essas regiões continuaram recebendo umidade suficiente da Amazônia para não terem se aridificado. A destruição sistemática e acelerada da floresta amazônica nos últimos 40 anos começa a destroçar a proteção que oferecia. Estamos matando a galinha dos ovos de ouro.
Quanto o senhor calcula que a destruição de árvores tenha causado a diminuição dos “rios aéreos” que, tudo indica, tem provocado a crise hídrica crescente? O quanto de espaço foi perdido no desmatamento da Amazônia em quatro décadas?
A crise hídrica atual parece resultar da atuação de vários fatores. Aquecimento global, mudança da circulação atmosférica, impedimento da progressão da umidade amazônica e enfraquecimento dos fluxos de vapor nos rios aéreos são alguns destes fatores. Quanto e de que forma exatamente contribui cada um deles, ainda não sabemos. Mas sabemos que todos estes fatores têm sido impactados por atividade humana. O desmatamento é a face mais visível da tragédia: somente de corte raso foram três estados de São Paulo (~763 mil km2). Degradação florestal, uma área maior ainda (~1,2 milhão de km2). Somadas, estas áreas de impacto já ocupam mais de 47% da área original de floresta na Amazônia brasileira. Tanta destruição já está produzindo impacto.
Qual a importância das árvores na formação das nuvens? De que forma as árvores são vitais para se gerarem as chuvas de que tanto precisamos para viver?
As árvores transpiram grandes quantidades de água bombeada do solo, o que resfria a superfície e fornece matéria-prima principal para a formação de nuvens. Elas também emitem compostos voláteis, os cheiros, que, como gases que se precipitam na forma de poeira finíssima, atuam na nucleação de nuvens e promoção de chuvas. Com a condensação do vapor fornecido pelas árvores, ocorre um abaixamento da pressão na atmosfera sobre a floresta, o que determina a sucção dos ares úmidos de sobre o oceano para dentro do continente.
Há alguma possibilidade de tombar-se a Floresta Amazônica como patrimônio da Humanidade, tentando impedir assim sua destruição pela ignorância humana?
Creio ser mais factível e prático empreender esforços para eliminar a ignorância humana. Somente uma sociedade consciente consegue fazer frente a interesses menores e destrutivos que surgem e são defendidos por elites poderosas. O exemplo das hidrelétricas na Amazônia é sintomático. Nos anos 80, depois de absurdos como Balbinae outras represas, pensou-se que nunca mais voltariam a cogitar novas obras deste tipo na Amazônia. Mas passaram-se décadas e o lobby das hidrelétricas voltou à carga, desta vez recebendo suporte de um governo oriundo de movimentos populares e até de parcela da sociedade que passou a justificar a geração de energia para atender à crescente demanda nacional. Até a proteção das reservas indígenas e outras áreas de conservação inscrita em nossa carta magna estão sob ataque eficiente dos interesses menores que dominam o Congresso. A meu ver, somente tombar a floresta, como se faz com valores culturais reconhecidos, não conseguirá barrar tais ataques.
Sua mensagem para todos os que alimentam esperança, e possam garantir o futuro climático do Brasil, protegendo a Amazônia – por nós e pelas gerações que virão.
Absorva e entenda a mensagem de alerta; aproprie-se do saber sobre a floresta e o clima; explique a seu modo para seu semelhante da importância das florestas; ensine a seus filhos, tios e avós; deixe de consumir produtos que colocam a floresta em risco; plante árvores; substitua seu chuveiro por aquecimento solar; demande de seus representantes e governantes atitudes responsáveis com o interesse da sociedade. E alegre-se que ainda temos essa oportunidade de evitar o pior – se lutarmos com todas nossas forças!

Nature Anatomy: A Glorious Illustrated Love Letter to Curiosity and the Magic of Our World

brainpickings
http://www.brainpickings.org/2015/02/20/nature-anatomy-julia-rothman/?mc_cid=ec09e7202b&mc_eid=ce32ab8bee


Nature Anatomy: A Glorious Illustrated Love Letter to Curiosity and the Magic of Our World

by 
A loving celebration of sunsets and salamanders, ferns and feathers, mountains and mushrooms, and the whole enchanting aliveness in between.
“A writer is a professional observer,” Susan Sontag noted in her spectacular lecture on literature. So is any great storyteller — including the artist. After turning her professional-observer powers and their visual record to the city and the farm, illustrator extraordinaire Julia Rothman now directs them at what Virginia Woolf believed was the source of all the arts: nature.
In Nature Anatomy: The Curious Parts and Pieces of the Natural World (public library), she fuses the curious scrutiny of science with the loving gaze of art to explore everything from sunsets to salamanders, ferns to feathers, mountains to mushrooms, and the whole enchanting aliveness in between.
Rothman — who also dreamt up the most generous book in the world — embraces the natural world with the same generous attention to its monumental wonders, like volcanos and orcas, and its quietly bewitching details, like snowflakes and butterfly metamorphosis. With great elegance and simplicity, she makes visible and intelligible some of the most complex questions that have occupied humans, both little and big, since our species first laid eyes on the glorious “mote of dust suspended in a sunbeam” we call home.
What emerges is at once a treasure trove of trivia — who knew that the 1,000 known species of bats, the only mammals capable of flight, constitute 20% of all classified mammals? — profoundly untrivial in its larger message: We are part of this glorious world we share with creatures manyfold more magnificent than us, and to know it is not only to love it, not only to be fully agape with awe, but to hold its future with utmost tenderness of heart and firmness of moral responsibility.
Rothman, the daughter of a science teacher, writes in the introduction:
I grew up on City Island in the Bronx, in New York City, on a block that ends with a beach, as most of the streets on the island do. Collecting and categorizing shells, studying horseshoe crabs’ undersides, and swallowing saltwater were part of my childhood, even though we could see iconic skyscrapers glowing across the water. My sister and I spent summers and camp, hiking in the woods in upstate New York, and sleeping in tents outfitted with lots of bug spray to satisfy my over-protective mother.
I really loved nature as a kid… But as I got older, I became a city girl at heart.
Rothman spent her teenage years as a normal city adolescent — sneaking into nightclubs and being rebellious in all those other predictable teenage ways that every generation believes it is inventing. Now, she lives near Prospect Park. Reflecting on that seemingly small yet miraculous contact with urban wildlife — of which there is far more than most people realize, well beyond parks — Rothman considers the transformative power of her mini “nature walks” in the park and how they shaped this project:
I cherish being surrounded by greenery for just a small period of time each day. It keeps me sane to be able to smell some grass after being squashed like a sardine in a subway car. I really look around the park wanting to know more. What is that tree with the beautiful leaves called? When will those flowers I saw last year show up again? Are those really bats flitting above our heads? How funny to see so many dragonflies attached, making love!
My curiosity continues to grow, and that’s how the idea for this book took shape.
Rothman notes that the book — in which she enlisted the help of friend and nature-expert John Niekrasz — is no more a “nature book” than her walks in the park are true “nature walks,” for there is no way to contain all of the living world between the covers of a single book. And yet it’s her nature book — a visual record of those aspects of our world that most sang to her and tickled her curiosity.
And that, I think, is precisely the point — we miss most of what is going on around us anyway, but it’s the act of looking that creates our reality, which is invariably subjective. Looking at nature in this way reminds us both that we are finite beings limited in the reach of our seeing abilities and that we belong to a world of infinite complexity and beauty — an awareness at once immensely grounding and immensely elevating. It calls to mind the opening of thatunforgettable Mary Oliver poem:
I know, you never intended to be in this world.
But you’re in it all the same.
So why not get started immediately.
I mean, belonging to it.
There is so much to admire, to weep over.
Complement Nature Anatomy with some 500 years of rare and gorgeous natural history illustrations and the story of how bees gave Earth its colors, then revisit Rothman’s unbearably wonderful Farm Anatomy and Hello NY.
Illustrations courtesy of Julia Rothman; photographs my own

Não é por dois graus centígrados

ibase
http://www.canalibase.org.br/nao-e-por-dois-graus-centigrados/


Não é por dois graus centígrados

Camila Nobrega
Do Canal Ibase
Povos indígenas estão entre os mais afetados / Foto: Heinrich Boll
Povos indígenas estão entre os mais afetados / Foto: Heinrich Boll
A alienação e supervalorização da economia do mundo atual, desconectada da base social e ambiental real, ficou clara na crise financeira que teve seu pico em 2009. De lá para cá, acirraram-se crises em diversas dimensões. A desigualdade e o clima são dois pontos de um sistema que urge por mudanças. Frente essas evidências, o que os chefes de estado reunidos em Lima, no Peru, para a COP-20 (Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas) decidiram? Mudar muito pouco, apostar em tecnologia e, principalmente, no próprio mercado, aquele que já se mostrou motor dos abismos sociais e da degradação ambiental do planeta. Mas essa não é a única opção. Foi o que mostrou a Cúpula dos Povos, evento que ocorreu simultaneamente à COP-20, reunindo organizações da sociedade civil do mundo inteiro para debater propostas de mudanças mais profundas na sociedade.
Membro da organização da Cúpula (Cumbre de los Pueblos, em espanhol –http://cumbrepuebloscop20.org/es/), o sociólogo chileno Ricardo Jimenez, do Pro Andes e da Secretaria de Imigrantes no Chile disse, em entrevista ao Canal Ibase, que “a única forma material de fazermos a diferença é alcançar governos que tenham vontade política e espaços em seus programas para desenvolver novas políticas e legislações, além de uma opinião pública autenticamente comprometida e eficaz contra as mudanças climáticas e pelo equilíbrio do meio ambiente”. Jimenez ressaltou que a sociedade civil tem mostrado, até agora, capacidade para resistir, reduzir o impacto sobre as populações e alcançar medidas pontuais em casos muito graves de danos ambientais. Um fator importante, para ele, tem sido a tomada de consciência das populações impactadas pelo modelo de desenvolvimento atual – projetos de mineração, geração de energia, entre muitos outros.
Multiplicam-se conflitos ambientais na América Latina
No entanto, o próprio anfitrião da Cúpula dos Povos este ano, o Peru, tem aprovado uma série de pacotes de medidas que reduzem controles e a força de algumas instituições ambientais que já antes eram frágeis. A consequência disso o crescimento vertiginoso dos conflitos ambientais. Segundo a Defensoria del Pueblo (http://www.defensoria.gob.pe/) – um órgão autônomo estabelecido por lei para acompanhar a garantia dos direitos das cidadãs e cidadãos chilenos – nos últimos cinco anos houve um aumento de 300% na frequência desses conflitos. Desses, 70% referem-se a embates que extrapolam a questão ambiental em si, sendo classificados como socioambientais nos últimos relatórios divulgados. Entre os problemas mais recorrentes aparecem a ausência de participação efetiva da sociedade nas decisões sobre projetos ambientais, a proteção frente a contaminações, questões sobre ordenamento territorial, entre outros.
O impacto sobre as populações tradicionais  tem se tornado o maior enfrentamento político dos últimos dez anos, segundo Jimenez, como mostram casos como o “Baguazo”, na Amazônia e o projeto “Cajamarca”.
Qualquer semelhança não é mera coincidência. Esse movimento de flexibilização das legislações socioambientais tem sido recorrente em países latino-americanos. No Brasil, o debate sobre o Código Florestal é um exemplo e, mais recentemente, a tentativa de aprovação da PEC 215 pela bancada ruralista, com uma proposta que pode colocar os povos indígenas em grave risco, é outra.
Moema Miranda, diretora do Ibase (http://www.ibase.br/pt/) que esteve presente na Cúpula dos Povos, no Peru, avalia que esses são sinais de um esgotamento do modelo de desenvolvimento da América Latina, completamente alicerçado no sistema econômico internacional. “A América Latina está se confrontando com os limites do desenvolvimento atual. Até este momento, alguns países, como o Brasil, conseguiram reduzir desigualdades sociais, porém sem mexer na estrutura dos mais ricos. Estava todo mundo ganhando. Mas isso tem um limite e ele chegou.” Para Moema, o grande problema é que a discussão do clima fica baseada apenas em argumentos mais científicos, quando, na verdade, trata-se de um paradigma de sociedade, já que os modos de vida da maioria das populações hoje existentes no planeta, especialmente das nações ricas, ultrapassam os limites reais do planeta. “Não dá para ficar falando só em dois ou três graus centígrados, até porque, dessa forma, apenas os cientistas controlam esse diálogo. A questão do clima é ambiental, é social. Essa visão fragmentada é completamente míope e não resolverá problema algum”.
Iara Pietricovsky, do Inesc, afirma que, frente aos desafios colocados, a Cúpula dos Povos terá de se repensar, para ampliar a força: “A Cúpula é um espaço importante e necessário de resistência. Mas só terá efeito e impacto sobre os acordos pautados pela mercantilização se  for capaz de produzir mobilizações massivas, mensagens claras e compreensíveis pela população e propostas que possam ser aceitas e defendidas por essa mesma população. Falta ainda, um elemento de comunicação mais ampla.”
Segundo Iara, o maior desafio é unificar forças na diversidade, algo que, na avaliação dela, já aconteceu em outros momentos históricos dos movimentos sociais. “Se conseguirmos montar uma agenda comum na América Latina, com mais flexibilidade em nosso espectro de alianças, teremos mais chances de efetividade.”
A carta final preparada a muitas mãos pela Cúpula dos Povos de Lima vai exatamente nesse sentido. O posicionamento das organizações da sociedade civil que lá estiveram reunidas é contra soluções que mais falam em pequenas adequações do sistema, como se isso fosse melhorar a vida de todos. A aposta em tecnologia para adaptação às mudanças climáticas, por exemplo, renova meios de produzir desigualdade, uma vez que apenas as nações mais ricas terão condições de investir nesse tipo de solução.
O mesmo acontece com propostas de pagamentos por serviços ambientais a populações, como o mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação (REDD), que preocupa muito por impor uma mercantilização da natureza e da vida. É o que afirma um trecho do texto final da Cúpula: “O capital procura fazer, frente à sua crise sistêmicas, a captura dos bens da natureza, como a  água, saques de territórios e de património natural, a produção de combustíveis fósseis, além do aumento da exploração dos trabalhadores, a repressão dos movimentos sociais e violência física e psicológica, múltiplas formas de crescente criminalização das lutas dos povos, a militarização e o controle territorial.” (Veja aqui declaração na íntegra, no site do MST)
Além do posicionamento único dos movimentos sociais, houve também proposições e avaliações importantes, como dos movimentos das juventudes (http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=83669). Os povos indígenas divulgaram uma carta afirmando que “as negociações dos chefes de estado não frearão o desastre que se impõe à Terra Mãe”, em referência ao planeta. A Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) também lançou um texto (http://www.rebrip.org.br/destaques/29/consideracoes-sobre-a-cop-20-cupula-climatica-da-onu-realizada-no-peru).
Já os líderes dos países que participaram da COP-20, a reunião oficial da ONU, porém, desempenham um papel de cegueira sobre estas questões. Eles disputam novos acordos, quando nem mesmo os compromissos firmados anteriormente, como o Protocolo de Kioto, foram cumpridos, especialmente pelos maiores emissões de gases de efeito estufa do planeta, China e Estados Unidos. Depois de longas sessões de discussões, que prorrogaram a conferência por dois dias devido às diferenças de posicionamento entre os países chamados “desenvolvidos” e os “em desenvolvimento”, a COP-20 chegou a um acordo sobre um texto que servirá de base para a próxima COP, em Paris, em 2015. O projeto de 22 pontos e quatro páginas foi aprovado no último minuto pelos delegados de 195 países que participaram da conferência, depois de duas semanas de negociações, para que a sensação de fracasso pudesse ser minimizada. O documento reconhece a responsabilidade comum e diferenciada dos países pelo aquecimento e estabelece mecanismos para lidar com perdas e danos por fenômenos climáticos extremos, especialmente nos países pobres e ilhas sob ameaça. Os países devem anunciar, nos próximos meses, os seus compromissos para reduzir as emissões globais entre 40% a 70% até 2050, com a necessidade de limitar a 2°C o aumento da temperatura global.
E sobre mudanças mais profundas no sistema, que possam trazer um modelo alternativo, com justiça socioambiental? Nada. Que venha a resistência, anunciam os povos indígenas. Será um 2015 de muita luta da sociedade civil, dentro e fora do Brasil.

NEGOCIAÇÃO E ACORDO AMBIENTAL – O TAC COMO FORMA DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS

fase
http://fase.org.br/pt/acervo/biblioteca/negociacao-e-acordo-ambiental-o-termo-de-ajustamento-de-conduta-tac-como-forma-de-tratamento-dos-conflitos-ambientais/


NEGOCIAÇÃO E ACORDO AMBIENTAL – O TAC COMO FORMA DE TRATAMENTO DOS CONFLITOS AMBIENTAIS

O livro “Negociação e acordo ambiental – O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) como forma de tratamento dos conflitos ambientais” busca entender como os TACs são desenvolvidos na prática, ou seja, suas contradições, especificidades e os papeis dos atores envolvidos, como órgãos do Estado, corporações e os diretamente afetados por práticas empresariais ambientalmente agressivas e violadoras. O estudo qualitativo mapeia esses atores, abordando suas justificativas, cenários políticos e os debates dentro do campo do Direito brasileiro. Trata-se de uma publicação da Fundação Heinrich Böll Brasil, em parceria com a FASE e pesquisadores do Laboratório Estado, Trabalho, Território e Natureza (ETTERN), do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR) da UFRJ. Dois casos no Rio de Janeiro foram objetos de análise: a Refinaria de Duque de Caxias da Petrobras (REDUC) e a ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA).
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Thursday 19 February 2015

Siriri: Devoção expressa em vivacidade de sons, cores e gestos

Revista FAPEMAT Ciência - 12/02/2015 21:39
Uma das manifestações tradicionais da cultura em Mato Grosso, o siriri foi registrado como patrimônio imaterial em 2004 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). De origem ameríndia e etimologia incerta, é praticado predominantemente por comunidades ribeirinhas. 
Geralmente, é dançado por casais de homens e mulheres, assim como também é praticado por grupos infantis. Três instrumentos são primordiais para ditar o ritmo da dança: viola de cocho (tombado como Patrimônio Imaterial em 2003), mocho (com formato de banqueta, cujo assento é de couro cru e bastões) e ganzá, também conhecido como reco-reco.
A viola de cocho é um dos instrumentos essenciais para a prática do siriri
(Fonte: Blog Alcides Viola de Cocho)
A partir da década de 2000, festivais ressaltam as performances praticadas por diferentes grupos, que também se apresentam em outros locais do Brasil e exterior. Tal como em sua essência, que sugere a possibilidade de ser praticado em qualquer lugar, o festival do siriri foi realizado em diversos espaços, conforme pesquisa da professora Patrícia Osório, do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Atualmente (fevereiro de 2015), conforme a Federação existem 26 grupos de siriri e cururu em diversos municípios de Mato Grosso: Cuiabá, Barra do Bugres, Santo Antônio de Leverger e Várzea Grande, Poconé, Cáceres, Barão de Melgaço, Nossa Senhora do Livramento e Nova Mutum. Além do festival, os grupos se apresentam em outros estados brasileiros e no exterior – em julho de 2014, o grupo Flor Ribeirinha, um dos principais de Mato Grosso, se apresentou em quatro cidades francesas (Étain, Chambery, Kaysersberg e Ambert) como o único convidado sul-americano para o Festival Mundial de Folclore.
 
Flor Ribeirinha, um dos grupos tradicionais de MT, se apresentando na França
(Fonte: Assessoria)
Luzes, cores, sons, religiosidade, vivacidade corporal evidenciada principalmente em palmas, marcação do ritmo pelos pés e estalar de dedos, e rodopios. Outro momento marcante nas coreografias é o giro da saia das integrantes femininas, em determinados pontos da música. 
Confira mais sobre o siriri no quadro “Outros Saberes”, dentro do Repórter MT, às 18h30 nesta sexta-feira (13) na TV Universidade, canal 2!
Performance do grupo Flor de Laranjeira, de Santo Antônio de Leverger, evidenciando os rodopios
(Fonte: Blog 10º Festival de Cururu e Siriri)

Fontes: Secom/MT, Iphan, “Os Festivais de Cururu e Siriri: Mudanças de cenários e contextos na cultura popular” (Patrícia Osório), “Danças Folclóricas na Educação Física Escolar” (Irlla Diniz), Grupo Flor Ribeirinha, Blog da 10ª edição do Festival de Cururu e Siriri. 

fonte: http://www.revistafapematciencia.org/noticias/noticia.asp?id=667

Taís Ueta

Thursday 12 February 2015

A seca não é culpa do seu banho demorado

Crise hídrica

04/02/2015 19:09
O assunto da vez, que ganha lugar nas manchetes e discussões em rodas de conversa, é a falta de água em São Paulo. A carência não é novidade no Brasil, já que o Nordeste sofre com a seca há décadas. Só que, agora, a população do Sudeste, região mais povoada do país, passou a ser atingida.
 
Devido ao Dia Mundial das Áreas Úmidas, comemorado segunda-feira [02/02], Paulo Teixeira, professor da Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT], esclareceu algumas questões referentes à falta d’água no país e à possibilidade de Mato Grosso ser atingido pela estiagem.
 
A data foi instituída devido à Convenção de Ramsar, acordada no Irã, em 1971 – o Brasil assinou o tratado na década de 90 –, com o objetivo de estimular a reflexão e mostrar a importância das áreas úmidas para a vida. A convenção, contudo, nunca foi colocada em prática efetivamente. Com isso, as consequências da ausência de preservação do meio ambiente começam a vir à tona.
 
Mas o que pouca gente sabe é que tomar banho demorado, lavar a calçada de casa ou escovar os dentes com a torneira aberta não são os verdadeiros vilões da escassez de água. O pesquisador conta que as residências são responsáveis por apenas 10% do total. “Isso não significa que nós não temos que economizar”, ressalta Teixeira, ao lembrar também que é a população em geral que joga garrafa pet, sofá e lata de cerveja nos rios.
 
Do que “sobra”, 20% são consumidos pela indústria, que já começa a investir no reuso, e 70% pela agricultura. Dessa forma, o professor ressalta duas preocupações: uma é a de que o ser humano precisa de comida, e, por isso, a agricultura não deve ser colocada totalmente como vilã. A outra trata da necessidade de água para viver. Como solução, ele sugere que no país, especialmente em Mato Grosso, que tem o setor como principal fonte da economia, seja adotado novo modelo para produção, a fim de economizar o líquido.
 
[Foto: www.terraambiental.com.br] 
 
A iniciativa, todavia, deve vir acompanhada da preocupação em preservar as áreas úmidas. Teixeira conta que, segundo pesquisa feita pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas [IPCC], se nada for feito para mudar a poluição, desmatamento etc, em 100 anos, 85% das áreas úmidas vão desaparecer e a temperatura média vai aumentar 6°C no mundo. “As áreas úmidas são poços de carbono. Elas, secando, vão liberar CO2 na atmosfera e alimentar mais ainda o efeito estufa”, explica.
 
No Brasil, a situação grave teve destaque com a falta de água em São Paulo. Teixeira lembra que a maior cidade do país degradou dois rios, Pinheiros e Tietê, ao acabar com a mata ciliar, canalizando e transformando ambos em um depósito de esgoto.
 
A mata ciliar, lagos, manguezais e pântanos são exemplos de áreas úmidas, essenciais para o armazenamento e purificação de água, retenção de sedimentos, recarga do nível de águas do solo, regulação do clima local e regional e à manutenção da biodiversidade. “A área úmida funciona como se fosse uma esponja: quando chove, absorve a água; quando seca, vai lentamente liberando H2O. Por isso, regula o ciclo hidrológico”, relata.
 
Da área total do Pantanal em território brasileiro [150 mil kmde 210 mil km2], 63% ficam em Mato Grosso do Sul e 37% estão em Mato Grosso
[Foto: www.viajeaqui.abril.com.br]  
  
O Pantanal é a maior área úmida tropical do planeta, e, apesar de boa parte dela estar no Estado vizinho, Mato Grosso do Sul, é aqui em Mato Grosso que 70% das nascentes estão, e a maioria delas ameaçada. “Existem denúncias de plantação de soja a dez metros de nascente de rio. Isso é um perigo, pois se seca a nascente, seca o rio”, lamenta o professor.
 
Para ele, o Pantanal só está protegido ainda porque é muito grande. É uma região de 160 mil km² de inundação. “O aquífero guarani é o maior do mundo e passa embaixo da gente aqui”, conta, deixando claro que pode vir a secar. 
 
MT e relação com a seca em SP
A falta de água do Sudeste não se deve às ações isoladas praticadas nessa região do Brasil. O fenômeno é consequência não só da poluição dos rios, da destruição da mata nas margens deles ou do desperdício. O desmatamento e a redução das áreas úmidas na região amazônica e em Mato Grosso estão diretamente ligados à falta de chuva em São Paulo, que leva à não reposição dos reservatórios para abastecer a cidade. “Chama-se evapotranspiração. Na floresta, as árvores absorvem a água do solo, as folhas transpiram e as nuvens formadas em cima das florestas, o que é chamado pelos pesquisadores de “rios voadores”, descem para chover no Sudeste”, salienta.
 
Segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazonia [Imazon], em agosto e setembro de 2014 o desmatamento da Amazônia apresentou aumento de 191%
em relação ao mesmo período de 2013
[Foto: www.amazonia.org.br]
 
E completa ainda: “O desmatamento da Amazônia e mudanças climáticas têm como consequência a ocorrência de eventos extremos. Quando é seco, é muito seco; quando chove, chove muito; quando é frio é muito frio”. 
 
Medidas urgentes
Segundo Paulo Teixeira, o tratamento de esgoto, para que a água purificada seja jogada nos rios, é uma das medidas urgentes a serem tomadas. O Governo e a população devem cuidar das Áreas de Preservação Permanente [APP] que estão na beira do rio. Isso quer dizer que qualquer propriedade nas margens do rio está irregular, e o governo precisa fiscalizar e punir quem desrespeita a lei.
 
Além disso, Teixeira prega o uso de energia limpa, como hidrelétricas. Nesse sentido, ele ressalta que há conflitos com ambientalistas, pois existem dois tipos de hidrelétrica. Uma é a que tem reservatório, a exemplo do Manso e de Itaipu, em que se acumula água como se fosse uma grande caixa d’água. “Mas os ambientalistas não querem mais que faça isso”. O outro tipo é igual à do rio Madeira e também a Teles Pires [em construção em MT, com a perspectiva de ser a maior do Estado], que são a fio d’água. Essa modalidade funciona com a água só passando pelas turbinas, respeitando o fluxo normal dos rios, o que as torna mais sensíveis à seca. Segundo o pesquisador, energia não limpa, como as termelétricas, agravam a situação do efeito estufa. 
 
Leis no Brasil
Está em tramitação no Congresso Nacional projeto de lei do senador Blairo Maggi (PR-MT), o PLS 750/2012, sobre a gestão do Pantanal. “Nós, do INAU e do CPP, demos contribuição, mas ainda há várias críticas à proposta. Uma das principais é que o projeto contraria a própria Legislação Federal. A política nacional diz que a gestão dos recursos hídricos tem que ser feita considerando a bacia hidrográfica como um todo. Então, não pode fazer uma lei para o Pantanal, calculando só a planície inundável, de 160 mil km². Tem que considerar a bacia do Alto Paraguai toda, que tem 400 mil km²”, avalia Teixeira.
 
Para concluir, o professor afirma que no projeto do parlamentar essas regiões não estão protegidas. “Você vai proteger a caixa d’água, mas vai esquecer da torneira, de garantir que ela não esteja aberta”.
 
Imagem de capa: www.tvosasco.com.br

Paulo Teixeira é coordenador em exercício do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Áreas Úmidas[INAU] e do Centro de Pesquisa do Pantanal [CPP]
fonte: http://www.revistafapematciencia.org/noticias/noticia.asp?id=657

Valérya Próspero