Friday 28 June 2013

Fibonacci e do número Phi - 1,618.


http://youtu.be/2VuS8JOkr7s

Curta produzido por Cristóbal Vila com apoio da Etérea Studios trazendo informações sobre a dinâmica de organização dos objetos na natureza através da sequência de Fibonacci e do número Phi - 1,618.

Prova cabal que existe consciência em cada partícula, em cada bloco de construção da matéria onde cada consciência individualizada segue seu próprio propósito de realização formando assim o Universo físico que nós conhecemos.

Thursday 27 June 2013

Desapropriar o mundo: sobre “O mal limpo”, de Michel Serres

a navalha de dalí
http://murilocorrea.blogspot.com.br/2012/06/desapropriar-o-mundo-sobre-o-mal-limpo.html

Desapropriar o mundo: sobre “O mal limpo”, de Michel Serres





“Mergulhado na publicidade, quem, ensurdecido, não percebe um ânus no alto-falante de uma caixa acústica?”

“Lave-se, lave-se bem, só não se lave demais, ficaria doente...”.
Michel Serres.

Le Mal propre: polluer pour s’approprier? (O mal limpo: poluir para se apropriar ?), saído em 2008 por Éditions Le Pommier, e traduzido no Brasil por Jorge Bastos em 2011, para a Bertrand Brasil é, em todos os sentidos, um escrito seminal. Se as incessantes migrações de Serres entre o exercício do pensamento e as ciências físicas, químicas e biológicas já não são novidade, Le Mal propre traduz uma renovada força expressiva em seus escritos: motriz criativa que encantava Gilles Deleuze.
É a partir da força múltipla do vocábulo propre (que significa, a um só tempo, limpo e próprio) que Serres erige a partir da etologia dos animais inferiores os comportamentos hominídeos que presidem todas as formas de apropriação. Sua raiz estaria em duas formas de sujar: malpropre, mais uma variação intensiva do conceito nodal de seu pequeno livro, significa “pouco limpo” ou “sujo”. As marcas ou as nódoas produzidas pelos corpos animais ao tentarem tornar aquilo que era limpo (propre) e impessoal, próprio (propre) e reservado.
Animais como homens fazem usos mais ou menos etológicos, mais ou menos hominídeos da apropriação pela sujeira que erige, em Serres, toda uma teoria muito particular do Direito Natural: “o próprio [le propre] se adquire e se conserva pelo sujo. Melhor ainda, o próprio [le propre] é o sujo”; exatamente como cuspimos na sopa para tornar os outros inapetentes, o logotipo suja o objeto e a assinatura, a página. O limpo é o inapropriado e o sem proprietário; a marca da apropriação é sujar, marcar, traçar, urinar, ou fazer como as putas de Alexandria – das quais os executivos do grande capital descendem em linha direta – e marcar as iniciais invertidas nas solas das sandálias, a fim de que potenciais clientes as pudessem rastrear pelas marcas.
Conspurcação-apropriação: esse par atravessa territórios, campos arados com esterco e ureia, o odor encarniçado que se evola das criptas mortuárias que demarcam lugares comunitários, o cuspe na sopa e toda forma de sujeira dura, testemunhando que os verbos avoir [ter] e habiter [habitar] possuem a mesma origem latina. A vida é concebida, vivida e adormece para sempre sob o chão ancestral com o sujo sangue de patriotas e imbecis de todo gênero; toda cidade é uma cidade dos milhões de mortos que transformaram a paisagem em país e a necrópole em metrópole: “O lugar”, segundo Serres, “não indica a morte, a morte designa o lugar”. Os três lugares fundamentais? O útero, a cama e a tumba: feto, afeto e escuridão.  A vulva torna-se o nicho, a morada do amante que a conspurca e a reserva (tal como um objeto marcado) com sêmen. A cama é o lugar do amor e do descanso; o jazigo, a morada final que o corpo ocupa e suja, retornando.
Para Serres, a apropriação tem uma origem “animal, etológica, corporal, fisiológica, orgânica, vital”, não derivada de nenhum direito positivo e fundamentada, antes, no corpo vivo ou morto; de modo que Rousseau, ao descrever a invenção da propriedade pelos homens na segunda parte do “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens”, teria descrito apenas uma solução imaginária, nascida, muito antes, quando Rômulo, mantendo-se fiel aos lobos que o criaram, matara seu irmão gêmeo e rival, fazendo o direito, e a cives, derivar da vida e da bestialidade. O fato de que um direito natural baseado no corpo e na vida animal tenha se tornado positivo deriva da evolução de práticas duras na direção de signos, e sujeiras, suaves.
Um movimento atravessa do duro dos corpos – e natural – ao suave – e cultural – dos signos. Assim como o pagus converte-se em página, o dejeto suaviza-se em assinatura de palavras e imagens – signos que, rapidamente, tornam-se tão poluidores quando as dejeções dos antigos gestos de apropriação.
Os consumidores tornam-se os locatários de seus carros e produtos: as empresas e suas marcas ostentatórias seriam seus reais proprietários; como continuam sendo proprietários de dados suaves e pessoais (identidade, registros, histórico de compras, hábitos etc.) a respeito de cujo conteúdo não somos mais que locatários.
Poluição dura e suave combinam-se: resíduos sólidos, líquidos e gasosos ao lado de “verdadeiros tsunamis de escritos, de signos e de logotipos com que a publicidade passou a inundar o espaço rural e citadino, público, natural e paisagístico”, escreve Serres. Duras e suaves, as poluições resultariam do mesmo gesto conspurcador, ”a mesma intenção de apropriação e que tem origem animal [...]. Quem cria lagos de viscosidades envenenadas ou outdoors coloridos garante que ninguém, em seu lugar ou vindo depois, vai se apropriar daquilo”. Ou não seríamos capazes de ver, por exemplo, no princípio do poluidor-pagador um retorno da feição excrementária do dinheiro, e sua exclusão, ao mesmo tempo, apropriante?
Eis o motor suave da expansão. Fluxo de poluição - fluxo de dinheiro (registro simbólico do excremento); comunhão espúria de merda, mercadoria e publicidade que rouba a paisagem aos olhos do comum com outdoors, palavras, imagens: dejetos suaves, nódoas intermitentes, precárias, cintilâncias que atravessam e dominam a totalidade do espaço habitável por homens completamente alienados, i. e.,possuídos. Sinal de que nada mudou desde os chacais. Quando as poluições duras são suavizadas e retornam com toda dureza, já não se pode separar poluições duras e suaves, como não se podem separar natureza e cultura ou forças e códigos: “É verdade”, escreve Serres, “só sabemos falar de poluição em termos físicos, quantitativos, ou seja, por meio das ciências duras. Mas, não, é precisamente de nossas intenções que se trata, de nossas decisões, de nossas convenções. Em suma, de nossas culturas”.
A poluição global apropria-se de tudo e derruba toda barreira e marcação onde antes sujávamos ingenuamente o nosso nicho. Já não há mais espaço mapeável, marcações ou divisórias possíveis: trata-se da luta pelo espaço em sua totalidade. O apagamento dos limites suprime a própria possibilidade de apropriar-se, de forma que o direito de propriedade atinge, nesse extremo para sempre excedido, “de repente, um patamar insuportável, perfeitamente impossível à vida”, e o mundo torna-se um mundo que, não podendo mais tê-lo, só poderemos habitá-lo como locatários – princípio do Contrato Natural com o qual Serres denuncia “a ordem cartesiana, ato agressivo e leonino de apropriação; não devemos mais nos impor como donos e senhores da natureza”, eis o princípio de uma nova cosmocracia. Sua política? Desejar e praticar o desapossamento do mundo.
Descobrir, levantar camadas e estratégias, desmanchar crostas e perceber a beleza num êxtase sem signo. “Res nullius, mundus”, o mundo teria se tornado, por excelência, o inapropriável a homens que tampouco se pertecem ainda: “Homo nullius”. Eis o que demarca o fim da história de um gesto: o de poluir para se apropriar.
A ele, segue-se a prática de um dever de  reserva, que assume quatro sentidos positivos: (1) coletivo e objetivo, designa a relação do homem com seu hábitat; (2) subjetivo, designa uma obrigação de desprendimento; (3) jurídico, que compreende a totalidade do mundo e das coisas como “a sucessão hereditária das gerações futuras”; (4) locativo, pelo qual “não há mais propriedade além da minha reserva”, meu nicho, seio de fragilidade e miséria ontológica imanentes ao Homem: “O primeiro que, tendo cercado uma horta, cuidou de dizer ‘Isso, para mim, basta’ e permaneceu egônomo, sem babar como um caramujo por mais espaço, teve paz com seus vizinhos e guardou o direito de dormir, de se aquecer, além do direito divino de amar. É puro Jean-Jacques em versão Serres”. Sequer a assinatura, o selo ou o nome, persistem próprios: todo nome é uma locação, signo arbitrário, leve, branco, “Suave, miserável e sem lugar”.

a tese do coelho

a tese do coelho




A TESE DO COELHO

Num dia lindo e ensolarado, o coelho saiu de sua toca com o notebook e pôs-se a trabalhar, bem concentrado. Pouco depois, passou por ali um chacal e viu aquele suculento coelhinho tão distraído, que chegou a salivar. No entanto, ficou intrigado com a atividade do coelho e aproximou-se, curioso:


Coelhinho, o que você está fazendo aí, tão concentrado?


Estou redigindo a minha tese de doutorado - disse o coelho, sem tirar os olhos do trabalho.


Hummmm.... e qual é o tema da sua tese?


Ah, é uma teoria provando que os coelhos são os verdadeiros predadores naturais dos chacais.

O chacal ficou indignado.


Ora !!! Isso é ridículo ! ! ! Nós é que somos os predadores dos coelhos!


Absolutamente ! Venha comigo à minha toca que eu mostro a minha prova experimental.

O coelho e o chacal entram na toca. Poucos instantes depois, ouve-se alguns ruídos indecifráveis, alguns poucos grunhidos e depois.............silêncio. Em seguida, o coelho volta, sozinho, e mais uma vez, retoma os trabalhos de sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Meia hora depois, passa um leopardo. Ao ver o apetitoso coelhinho, tão distraído, agradece mentalmente à cadeia alimentar por estar com o seu jantar garantido. No entanto, o leopardo também acha muito curioso um coelho trabalhando naquela concentração toda. Resolve então saber do que se trata aquilo tudo, antes de devorar o coelhinho:


Olá, jovem coelhinho! O que faz trabalhar tão arduamente?


Minha tese de doutorado, seu leopardo. É uma teoria que venho desenvolvendo há algum tempo e que prova que nós, coelhos, somos os grandes predadores naturais de vários animais carnívoros, inclusive dos leopardos.

O leopardo não se conteve e farfalha de risos com a petulância do coelho.


Ah, ah, ah,ah ! ! ! Coelhinho, apetitoso coelhinho ! Isto é um despropósito. Nós leopardos é que somos os genuínos predadores naturais dos coelhos. Aliás, chega de conversa.....


Desculpe-me, mas se você quiser, eu posso apresentar a minha prova experimental. Você gostaria de acompanhar-me à minha toca?

O leopardo não consegue acreditar na sua sorte. Ambos desaparecem toca adentro. Alguns instantes depois, ouve-se uivos desesperados, ruídos de mastigação e... silêncio. Mais uma vez o coelho retorna sozinho, impassível, e volta ao trabalho de redação de sua tese, como se nada tivesse acontecido.

Dentro da toca do coelho vê-se uma enorme pilha de ossos ensangüentados e restos mortais de diversos ex-chacais ex-leopardos. Ao lado da duas pilha de ossos, um enorme LEÃO, satisfeito, bem alimentado, a palitar os dentes.




MORAL DA ESTÓRIA:


Não importa quão absurdo é o tema de sua tese;


Não importa se ela não tem o mínimo fundamento científico;


Não importa se os seus experimentos nunca cheguem a provar sua teoria;


Não importa nem mesmo se suas idéias vão contra o mais óbvio dos conceitos lógicos.....


O que importa é, QUEM É O SEU ORIENTADOR...



................................ 
no utube

a atemporalidade da contracultura

a atemporalidade da contracultura
literalmente jovens há mais tempo!


Monday 24 June 2013

Instituto de Educação da UFMT recebe primeira aluna de estágio doutoral

ufmt notícias
http://www.ufmt.br/ufmt/site/noticia/visualizar/11542/Cuiaba

Instituto de Educação da UFMT recebe primeira aluna de estágio doutoral

Publicado em Notícias | 24/06/2013

A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) está recebendo, ao longo do primeiro semestre letivo de 2013, a primeira aluna de estágio doutoral no formato “sanduíche”. Segundo Rita Lourenço, acadêmica que está estagiando na UFMT, o estágio serve para preencher espaços conflituosos em discussões que ocorrem no programa de pós-graduação do qual ela faz parte na Bahia.
É a primeira vez que a UFMT recebe este tipo de estágio e este está sendo realizado juntamente com o grupo de pesquisa em Educação Ambiental. Recebida e orientada pela professora doutora Michele Sato, Rita viu no estágio a oportunidade de cursar disciplinas ministradas pela orientadora. A professora Sato conta que neste tipo de estágio a acadêmica “acompanha um pouco a pesquisa, empiricamente, participa de algumas discussões teóricas, tem uma vivência acadêmica com a gente. Aí no final ela vê o que contribuiu com a pesquisa dela, ela apresenta um seminário e depois vai embora”.
A doutoranda é da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) e estuda a relação da escola com a comunidade. Orientada pelo professor da UNEB Antonio Dias Nascimento, faz parte do Programa de Educação e Contemporaneidade (PPGEDUC), dentro da linha de pesquisa em Educação, Gestão e Desenvolvimento Local Sustentável.
Este tipo de estágio tem um caráter diferente dos demais, pois possibilita aos estudantes uma aprendizagem mais expressiva em termos conceituais ao longo de um semestre ou de um ano. Fica a cargo do aluno o tempo que ele irá passar na instituição que a recebeu para tal vivência acadêmica e trocas de conhecimento teórico.

Sunday 23 June 2013

Michel Maffesoli:‘Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos’

o globo
http://oglobo.globo.com/pais/michel-maffesolivejo-esses-movimentos-como-maios-de-68-pos-modernos-8786658

Michel Maffesoli:‘Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos’




Michel Maffesoli, pensador francês
Foto: O Globo / Fernando Eichenberg
Michel Maffesoli, pensador francêsO GLOBO / FERNANDO EICHENBERG


Para pensador francês, as manifestações que ocorrem atualmente no Brasil são exemplos de subversões nascidas da espontaneidade emocional em rejeição à política moderna racional programática

PARIS - Com mais de 20 obras publicadas no Brasil — como “A transfiguração do político” e “A dinâmica da violência” —, o sociólogo Michel Maffesoli vê o país como um “laboratório” no fim dos tempos modernos e diz não ter sido surpreendido com a eclosão das manifestações em diversas cidades brasileiras. Conhecedor do Brasil, para onde viaja há mais de 30 anos para conferências e intercâmbios intelectuais, Maffesoli disse que vai “dar uma passada” na manifestação de brasileiros que ocorrerá no fim da tarde de hoje, em Paris, em solidariedade ao movimento. Na sua opinião, manifestações como as do Brasil e da Turquia podem ser vistas como “Maios de 68 pós-modernos”, de curta duração, mas com marcas indeléveis.
Como o senhor analisa estes movimentos no Brasil?
É um bom exemplo destas sublevações pós-modernas que se desenvolvem em vários lugares. É uma revolta bastante disseminada, que não se origina de um projeto político preciso e programático, mas, ao contrário, propaga-se como um fogo rápido a partir de um pequeno pretexto, como R$ 0,20 de aumento da passagem de ônibus. É algo que pode ser comparado com o exemplo turco, onde a partir de algo anódino — construir algo ou não num parque — se criou uma sublevação que se alastrou. Vivemos o fim de uma época, e umas das manifestações disso é que algo cotidiano suscita um movimento que questiona o sistema.
Para o senhor, é o fim de um modo de se fazer política?
É o fim da política moderna. Tive como professor na França o sociólogo Julien Freund (1921-1993), também conhecido no Brasil, que dizia que o político é a ideia de um projeto, de um programa, da dimensão racional, seja de esquerda ou de direita. O objetivo programático é mobilizar energias para alcançar o fim desejado. Era a grande ideia marxista dos sistemas socialistas do século XIX, das políticas conservadoras etc. Vemos que há uma saturação, um tipo de indiferença, esses jovens não se reconhecem mais num programa, num partido ou sindicato. Não é mais programático, mas, sim, emocional. A modernidade é racional, e a pós-modernidade é emocional. Com o que ocorre no Brasil temos uma boa ilustração disso.
O senhor se surpreendeu pelo fato de essas manifestações ocorrerem agora no Brasil?
Vejo o Brasil como um laboratório da pós-modernidade. Algo assim não vejo ocorrer na França, onde espírito, clima e intelligentsia permanecem muito racionais. Não vejo surpresa neste tipo de explosão, forte, mesmo brutal, num país como o Brasil.
Não se trata de revolução. Como o senhor definiria este movimento?
A palavra “revolução” significa uma ruptura. Etimologicamente significa “revolvere” em latim, voltar a coisas que acreditávamos superadas. Não é uma revolução no sentido moderno do termo, como ruptura. Mas no sentido etimológico vemos voltar essa ideia de fraternidade, de estar juntos, das tribos. Por isso o Brasil é um país importante, porque vejo que resta essa velha ideia, que vem das culturas ancestrais, de comunidade, de solidariedade de base. Vejo uma espécie de ilustração da minha teoria de tribos urbanas. E, quando há um tal ajuntamento, os políticos ficam perdidos, desamparados, porque ultrapassa suas categorias, que permanecem programáticas. Vemos uma sublevação, um tsunami das tribos urbanas.
As redes sociais também têm um papel importante nessas sublevações...
Brinco dizendo que neste caso não se deve mais fazer sociologia, mas epidemiologia, pois é algo viral. É a sinergia do arcaico com o desenvolvimento tecnológico. Arcaico são as tribos; desenvolvimento tecnológico, a internet. Há mobilidade graças às redes sociais. As tribos urbanas se tornam comunidades interativas. Há essa expressão em inglês, “flash mob” (abreviação de flash mobilization, movimentação relâmpago). De repente surge uma mobilização que desampara as instituições. Como não é programático, há o risco de murchar como um suflê, de forma rápida. Mas é algo que deixa marcas.
O movimento pode degenerar?
Não se faz omelete sem quebrar ovos. Não podemos atuar como moralistas. Mesmo que os participantes se manifestem contra a violência, é algo que não é controlável. Não se pode prever, mas é quase certo que haverá algum dano. Está na natureza humana, quando ocorre algo que quebra a ordem das coisas é certo que haverá desvios.
Como compara o que ocorre no Brasil com outros países? Teria alguma relação com Maio de 68?
Não se pode comparar com a Primavera Árabe, a não ser pelo uso de tecnologias e redes sociais. Acho que é mais comparável com a Turquia. Vejo esses movimentos como Maios de 68 pós-modernos: emoção coletiva, que provoca o contágio e se alastra de forma incontrolável. Poderá secar, mas com um verdadeiro corte, e o depois não poderá ser como o antes.

Tuesday 18 June 2013

Imazon: desmatamento aumenta, degradação diminui

O Mato Grosso continuou no topo do ranking de desmatamento por estado, concentrando 61% do desmatamento ocorrido neste maio de 2013.


Operação do Ibama embarga áreas desmatadas ilegalmente no Pará. Foto: Nelson Feitosa/Ascom Ibama/PA.
Em maio, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon  detectou 84 quilômetros quadrados de alerta de desmatamento do tipo corte raso na Amazônia Legal. Leia-se por corte raso, supressão total da floresta. Isso representou um aumento de 97% em relação a maio de 2012 quando o desmatamento somou 42,5 quilômetros quadrados. 

“Mais um mês de ocorrência de aumento, com destaque para o Pará e norte do Mato Grosso e para região da BR-163, local que já vem sendo alvo de várias ações do Ibama”, explica Heron Martins, pesquisador do Imazon. Em Itaituba e Trairão, municípios da região da BR 163, foram desmatados 13,8 quilômetros quadrados e 2,8 quilômetros quadrados, respectivamente.

Mesmo com o fim do período chuvoso na Amazônia, 46% do território ainda estava coberto de nuvens em maio de 2013. No mesmo mês do ano passado, 54% do território da Amazônia Legal estava coberto.

O Mato Grosso continuou no topo do ranking de desmatamento por estado, concentrando 61% do desmatamento ocorrido neste maio. Em segundo aparece o Pará (29%), seguido de Rondônia (7%), Amazonas (2%) e Acre (1%).


No acumulado do ano, a tendência de aumento mensal nos dados do desmatamento na Amazônia Legal continuou. Desde o começo do ano no calendário do desmatamento, iniciado em agosto, até o mês de maio, o Imazon detectou 1.654 quilômetros quadrados desmatados. Um aumento de 89% em relação ao período anterior (agosto de 2011 a maio de 2012) quando o desmatamento somou 873 quilômetros quadrados.

Degradação florestal em queda
Por outro lado, neste maio, foram degradados (estágio anterior ao corte raso) 74,5 quilômetros quadrados de floresta. Uma redução de 80%, comparada com maio de 2012, quando a degradação florestal somou 370,5 quilômetros quadrados.

Para Heron Martins, a diminuição na degradação é uma boa notícia. “A degradação é muito ligada a exploração florestal, é um fenômeno diferente do desmatamento [corte raso], mais ligado a atividades como pecuária e agricultura. A diminuição do índice pode ser um indicador que as ações de combate a exploração madeireira estão tendo resultados”.

No acumulado do ano (agosto 2012 a maio 2013), a redução foi de 34% comparada ao mesmo período no ano anterior. Entre agosto 2012 a maio 2013, 1.293 quilômetros quadrados de florestas foram degradadas. No mesmo período passado, a degradação somou 1.960 quilômetros quadrados.



paulo freire

Em de 17 de abril 1997, Paulo Freire concedeu a sua última entrevista, à repórter Luciana Bonamacchi, da TV-PUC, na qual comenta recente Marcha do MST:

“Eu estou absolutamente feliz por estar vivo ainda e ter acompanhado essa marcha que, como outras marchas históricas, revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo. Essa marcha dos chamados “Sem Terra”. Eu morreria feliz se visse o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas. Marcha dos que não tem escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem, marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser. Eu acho que, afinal de contas, as marchas são andarilhagens históricas pelo mundo... O meu desejo, o meu sonho, é que outras marchas se instalem neste país. Por exemplo: a marcha pela decência, a marcha pela superação da sem vergonhice que se democratizou terrivelmente neste país. Eu acho que essas marchas nos afirmam como gente, como sociedade querendo democratizar-se”. 

(Transcrição do vídeo Paulo Freire in memoriam feita por Camila Téo em 25 de abril de 2013).



Monday 17 June 2013

momentos presenciais das ESCOLAS SUSTENTÁVEIS - Guarantã

Professora Glauce Viana Souza-Torres
em Guarantã do Norte

momentos  presenciais das ESCOLAS SUSTENTÁVEIS
e lançamento do livro de educação ambiental

*













Caminho inverso

fapesp
http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/06/05/caminho-inverso/

Caminho inverso

Estudo indica que árvores da serra da Mantiqueira captam água pelas folhas e a transportam para o solo
IGOR ZOLNERKEVIC | Edição 208 - Junho de 2013

© RAFAEL OLIVEIRA / UNICAMP
Entre nuvens: neblina se adensa sobre trecho de mata atlântica na serra da Mantiqueira, interior de São Paulo
Entre nuvens: neblina se adensa sobre trecho
de mata atlântica na serra da Mantiqueira,
interior de São Paulo
De Campos do Jordão
Em uma expedição no início de maio à serra da Mantiqueira, o biólogo Paulo Bittencourt parou diante de um córrego de água fria e cristalina numa estrada de terra entre fazendas de criação de ovelhas próximas ao Parque Estadual de Campos do Jordão. “Pode beber que não tem como estar poluída. Essa água vem lá de cima”, disse, apontando para o local onde nasce o riacho, a cerca de 2 mil metros de altitude, em um morro coberto por uma mata de árvores baixas com folhas pequenas. “São riachos assim que descem a serra para alimentar e manter estáveis os rios maiores lá embaixo”, explicou. Paulo faz mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sob a orientação do ecólogo Rafael Oliveira, que trabalha para quantificar a contribuição desse tipo pouco conhecido de mata atlântica para o abastecimento de água do Vale do Paraíba.
“Há uma importante relação entre essas matas e as nascentes da serra da Mantiqueira”, afirma Oliveira. Sem essa vegetação, a chamada floresta tropical montana nebular, a neblina que sobe a serra seguiria continente adentro, carregando a umidade que obtém a partir da evaporação dos rios e a transpiração das plantas no vale. As pequenas matas nebulares nas encostas montanhosas retêm umidade quando o vapor da neblina se condensa em gotas sobre suas folhas e escorre para o solo. Estudos em matas nebulares tropicais da Costa Rica sugerem que a captação de água da neblina pelas árvores pode contribuir com até 30% do volume dos rios de uma região.
Uma porção menor da água da neblina retorna ao solo de um modo surpreendente: por dentro das árvores. Em artigo publicado on-line em março na New Phytologist – será a capa da edição de julho –, a equipe de Oliveira mostra que, quando o solo está seco e a neblina aparece, as folhas da casca-de-anta – Drimys brasiliensis, a árvore mais abundante nessas matas – são capazes de absorver a água que se deposita em sua superfície. Os pesquisadores observaram que o sistema vascular da árvore conduz essa água até suas raízes e libera parte dela no solo. Segundo Oliveira, é a primeira vez que se observa essa forma de transporte de água em uma árvore tropical. “Essa constatação muda como enxergamos a interação entre as árvores e a atmosfera”, afirma.
Até pouco tempo atrás, achava-se que era impossível as árvores absorverem água pelas folhas. Afinal, a superfície das folhas é coberta por uma fina camada de cera impermeável, a cutícula, que evita a perda de água para o ambiente. Mas, nos últimos tempos, segundo o botânico Gregory Goldsmith, da Universidade da Califórnia em Berkeley, foram identificadas 70 espécies de plantas com folhas capazes de absorver água.
A botânica Aline Lima confirmou a absorção de água pelas folhas em seu mestrado, orientado por Oliveira e parte do projeto Biota Gradiente Funcional, financiado pela FAPESP. Ela pingou gotas de água contendo cristais fluorescentes sobre folhas de casca-de-anta em uma estufa, para depois observar ao microscópio o caminho percorrido pela água. O trabalho comprovou que a água atravessa a cutícula e penetra na folha. Segundo Oliveira, estudos recentes feitos na Alemanha mostram que os cristais de cera da cutícula são dinâmicos. Numa atmosfera muito úmida eles se rearranjam e deixam a folha permeável.
Na contramão
Esses resultados contrariam o que dizem os livros-texto de biologia. Esses livros ensinam que o fluxo de água nas plantas segue um sentido único. Segundo a visão clássica, as folhas estão sempre transpirando, perdendo água para o ar por meio dos estômatos, orifícios na superfície inferior das folhas que abrem e fecham segundo a disponibilidade de luz e água. Como alguém que sorve líquido por um canudo, a perda de água por transpiração exerce uma força de sucção no interior dos vasos condutores fazendo a água subir até as folhas enquanto mais água é retirada do solo pelas raízes. “É o que a maioria das plantas faz o tempo todo”, explica Oliveira. Estudos sugerem que até 50% da umidade que circula na atmosfera em certas regiões venha da transpiração de suas florestas.
Imagem de microscopia mostra que a água atravessa a cutícula...
Imagem de microscopia mostra que a água
atravessa a cutícula…
Nos últimos anos, entretanto, alguns pesquisadores começaram a observar que esse fluxo pode ser invertido em situações em que o ar está mais úmido do que a terra. O biólogo Todd Dawson, que orientou Oliveira durante seu doutorado na Universidade da Califórnia em Berkeley, descreveu em 2004 como as sequoias transportam água na contramão.
As florestas de sequoias, árvores com até 115 metros de altura, ocorrem em regiões da Califórnia onde cai uma quantidade de chuva comparável à do sertão nordestino. O que salva essas árvores da seca é a neblina vinda do mar, que satura o ar de vapor-d’água. Nessa condição, as folhas das sequoias absorvem água e param de transpirar, cessando o fluxo de baixo para cima. Ao mesmo tempo, a secura no interior do tronco cria uma força de sucção capaz de puxar a água da atmosfera para baixo, até a árvore se reidratar.
Tentando identificar um fenômeno semelhante em árvores brasileiras, Oliveira procurou por florestas nebulares em todo o país até encontrar as matas da serra da Mantiqueira, onde nascem vários rios, embora seja uma região com secas frequentes. Nas matas do Parque Estadual de Campos do Jordão, onde  trabalha desde 2009, chove um pouco mais do que no cerrado. O clima é seco de junho a agosto, embora quase sempre haja neblina no começo e no fim do dia.
Para entender como a casca-de-anta sobrevive nessas condições, Cleiton Eller, aluno de doutorado de Oliveira, cultivou essas árvores em uma estufa na Unicamp em três condições: recebendo água pela terra, hidratadas por meio de uma neblina artificial borrifada sobre as folhas ou sem irrigação. As plantas tratadas só com neblina sobreviveram por dois meses.
© ANA PAULA CAMPOS
... e penetra na folha quando a atmosfera está saturada
… e penetra na folha quando a atmosfera está saturada
A fim de confirmar que a água absorvida pelas folhas podia ser transportada até a terra, os pesquisadores realizaram um experimento complementar. Tomando cuidado para não molhar o solo, eles borrifaram as folhas da casca-de-anta com água pesada. A água pesada contém átomos de um tipo de hidrogênio mais pesado que o normal, o deutério, que podem ser detectados por um espectrômetro de massa. Segundo o raciocínio desse teste, o deutério encontrado posteriormente na terra serve como prova de que a água teria sido absorvida pelas folhas, transportada até as raízes e injetada no solo. Pelos números obtidos no experimento, Oliveira estima que, se uma árvore transpira 10 litros de água por dia, ela é capaz de transportar em seu interior, no mesmo dia, 2,5 litros de água da atmosfera para o solo.
“Esse é o nosso resultado mais impressionante”, afirma Oliveira, que encontrou apenas outro registro na literatura científica de água absorvida pelas folhas chegando ao solo. Em 1969, a botânica Fusa Sudzuki, da Universidade do Chile, demonstrou o mesmo fenômeno em um experimento com o tamarugo, árvore típica do deserto do Atacama. “O trabalho dela é bonito, mas seus resultados foram rejeitados na época”, conta Oliveira.
Possível e relevante
“O estudo do grupo da Unicamp mostra que o fluxo de água da atmosfera para o solo não só é fisicamente possível, mas fisiologicamente relevante”, observa a botânica Lúcia Dillenburg, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que publicou evidências de que as araucárias também absorvem água pelas folhas.
“Esse é um trabalho muito original”, afirma o botânico Marcos Buckeridge, da Universidade de São Paulo. Ele, no entanto, comenta que nem toda a água com deutério detectada no solo corresponde à água captada pelas folhas. Segundo Buckeridge, a planta pode ter usado a água que captou pelas folhas para produzir compostos orgânicos, como os açúcares, normalmente liberados pelas raízes. “Em questão de segundos, os açúcares trocam deutério com a água do solo”, explica. Na sua opinião, um modo de desfazer a dúvida seria repetir o experimento usando água pesada contendo oxigênio-18, que interage menos com outras substâncias do que o deutério. “Seria um experimento mais caro e complicado”, diz.
© RAFAEL OLIVEIRA / UNICAMP
Oliveira concorda que há incerteza sobre a quantidade de água que as raízes liberam para o solo, mas ressalta que seus experimentos comprovaram o fluxo inverso da água das folhas até as raízes. “Como a maioria das plantas não tem um mecanismo que previna a liberação de água das raízes para o solo e como há um gradiente de potencial hídrico grande o suficiente para permitir o movimento de água das folhas para as raízes”, diz Oliveira, “o mais provável é que a água tenha saído das raízes para o solo”.
Nos testes feitos na serra da Mantiqueira, a equipe de Oliveira traçou o fluxo de água nas árvores com sensores conectados por fios a um equipamento que armazena as informações. Agora o grupo se prepara para iniciar o monitoramento de matas nebulares com sensores sem fios, a serem desenvolvidos por engenheiros da Microsoft, com apoio da FAPESP. A ideia é acompanhar as transformações que esses ambientes podem sofrer com as alterações climáticas.
ProjetoMudanças climáticas em montanhas brasileiras: respostas funcionais de plantas nativas de campos rupestres e campos de altitude a secas extremas (nº 2010/17204-0);Modalidade: Linha Regular de Auxílio a Projeto de Pesquisa; Coord.: Rafael Silva Oliveira – IB/Unicamp; Investimento: R$ 566.468,84 (FAPESP).
Artigo científico
ELLER, C. B. et al. Foliar uptake of fog water and transport belowground alleviates drought effects in the cloud forest tree species, Drimys brasiliensis (Winteraceae). New Phytologist. 2013. No prelo.

Amazônia: Quatro décadas de desmatamento

Segundo estimativas do INPE e da ONU, no ano de 1970 a floresta amazônica cobria 4.100.000 km² do território brasileiro. Quatro décadas depois, mais de 750.000 km² de floresta foram desmatados, significando que por volta de 20% da floresta existente em 1970 já foi derrubada. 91 % da dessa terra desmatada desde 1970 é usada para pastagem de gado, apesar da Amazônia ser a floresta tropical mais rica em espécies do mundo, com milhões de espécies de insetos, dezenas de milhares de espécies de plantas, milhares de espécies de peixes, pássaros e mamíferos.

Abaixo você pode ver como a paisagem da floresta mudou nessas últimas quatro décadas. Comparando imagens históricas de 1969 disponíveis no Google Earth com imagens recentes das mesmas regiões temos uma visão assustadora do quanto de floresta foi derrubada nesses 44 anos.

Você pode também acompanhar os últimos dados sobre o desmatamento na Amazônia e ler notícias sobre a região no projeto InfoAmazônia, feito por ((o))eco em parceria com a Internews.

Apuí - AM - 1969

Apuí - AM - 2013



Castelo dos Sonhos - PA - 1969

Castelo dos Sonhos - PA - 2013



Nova Mamoré - RO - 1969

Nova Mamoré - RO - 2013



Novo Progresso - PA - 1969

Novo Progresso - PA - 2013



São Félix do Xingu - PA - 1969

São Félix do Xingu - PA - 2013



Xapuri - AC - 1969

Xapuri - AC - 2013


fonte: O eco - http://www.oeco.org.br/

Saturday 15 June 2013

Surucucu: a Dona da Noite

eco
http://www.oeco.org.br/fauna-e-flora/27272-surucucu-a-dona-da-noite?utm_source=newsletter_737&utm_medium=email&utm_campaign=as-novidades-de-hoje-em-oeco


A Dona da Noite, à espreita nas matas da Concessão de Conservação Los Amigos em Madre de Dios, Peru. Foto: Geoff Gallice

A lenda da tribo Sateré Mawé diz que, depois de criado o mundo, faltou a noite para que pudessem dormir. O índio Uánham, então, decidiu pedir à Surucucu que lhe desse, sabendo que era a Dona da Noite. Levou consigo presentes tentando comprá-la, mas foi recusado repetidas vezes, porque exigiam o uso de pernas e braços, o que a surucucu não tem. Enfim, o índio levou venenos, que a cobra ainda não tinha. Satisfeita, ela lhe concedeu a primeira noite numa cesta, com a recomendação de que só fosse aberta em casa. Uánham desobedeceu a recomendação e a noite escapou.

O índio voltou com mais veneno para Surucucu, em troca da Grande Noite, porque a noite havia sido muito curta. A surucucu, para formar a grande noite, misturou jenipapo com todas as imundícies que encontrou. E é por isso que, quando acordamos, somos letárgicos e temos mau hálito...

Lendas à parte, a surucucu (Lachesis muta) é a maior serpente venenosa do hemisfério ocidental e uma das maiores do mundo, podendo atingir até 4,5m de comprimento e suas presas medem 3,5cm. Pode ser encontrada em toda a América do Sul (incluindo a ilha de Trinidad, na República de Trinidad e Tobago).

No Brasil, habita florestas densas, principalmente na Amazônia, mas há registros de sua presença em áreas isoladas de resquícios de Mata Atlântica dos estados do nordeste, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

A vocação para mito está até em seu nome científico, Lachesis mutaLachesis é uma referência aLáquesis, uma das Moiras, as três irmãs da mitológia gregas que decidiam o destino dos seres humanos e deuses. Muta ("muda" em latim) faz referência à vibração da sua cauda que, similar à da cascavel, se diferencia por não ter ruído. Ainda é conhecida por outros nomes, a depender do local: shushúpe (Peru),pucarara (Bolivia), cuaima (Venezuela), verrugoso (Colômbia) e in makka sneki ou makkaslang (Suriname). Aqui, atende por surucucu pico-de-jacasurucutingasurucucutingasurucucu-de-fogo e cobra-topete.

Sua cabeça é larga, se distinguindo do pescoço estreito. O focinho é arredondado. Seu corpo é marrom e marcado com formas losangos marrom-escuros, revestidos por faixas esverdeadas. Sua cauda não tem guizos, como a cascavel, mas quando esfregada contra a folhagem, um pequeno osso que possui no extremo da cauda produz um som. A surucucu dá sinal de que está incomodada: de comportamento agressivo, não aprecia invasores em seu território. 

Um animal de hábitos noturnos, se alimenta de pequenos animais e roedores. L. muta é capaz de identificar os animais que caça pelo calor, seguindo o seu rastro térmico. Este acurado sensor de calor é a membrana que reveste internamente as fossetas loreais (orifícios entre as narinas e os olhos). A espécie se reproduz entre os meses de outubro e março. o período de incubação dos ovos é de 76 a 79 dias (em cativeiro).

Lachesis muta é comum nas suas áreas de ocorrência. Em contrapartida, a Lachesis muta rhombeata, uma subespécie endêmica da Mata Atlântica, caracterizada pelo corpo amarelo com desenhos negros, está ameaçada de extinção. A queda populacional desta subespécie se deve à redução e fragmentação do seu habitat em razão do desflorestamento. Ela está classificada como Vulnerável na Lista Vermelha daInternational Union for Conservation of Nature and Natural Resources (IUCN).